Uma abordagem terapêutica revolucionária que desde a década de 1940 passa por constante evolução tem sido forte aliada na recuperação de pessoas de todas as idades com problemas de movimentação e controle postural devido a lesões do sistema nervoso central. Trata-se do Conceito Neuroevolutivo Bobath, bastante presente no cotidiano de profissionais da Fisioterapia. Conversamos com Priscila de Souza, especialista em Fisioterapia Neurofuncional do Increasing, que nos explicou em detalhes as aplicações e a importância do conceito. Confira:
Como surgiu o Conceito Neuroevolutivo Bobath?
Priscila de Souza - Foi criado e desenvolvido no início dos anos 1940 pelo Dr. Karel Bobath (Médico) e Berta Busse Bobath (Fisioteapeuta) através da observação do padrão normal do movimento versus padrão patológico, e desde então foram criando conceitos para abordagem de facilitação da execução da atividade motora, promovendo assim maior plasticidade neural baseada nos movimentos corretos a partir de um déficit neurológico. A abordagem Bobath foi descrita primeiramente em 1948. Berta Bobath teve sucesso na reabilitação com um paciente que sofreu acidente vascular encefálico. Ele foi submetido ao tratamento fisioterapêutico com o conceito Bobath e assim foi possível recuperar suas habilidades motoras, retornando ao seu trabalho de pintor. Porém, somente em 1951 os idealizadores do conceito Bobath abriram uma clínica em Londres, a Western Cerebral Palsy Centre. O Conceito é praticado no mundo todo desde então, evoluindo e se aprimorando.
Por que não chamar de “técnica” ou “método”, mas sim “Conceito Neuroevolutivo Bobath”?
Priscila de Souza - Esta forma de intervenção passou ser referida como conceito e deixou de ser um método por ser uma abordagem que está em constante evolução. Além disso, utiliza-se o termo “neuroevolutivo” por obedecer a sequência do desenvolvimento motor normal ou desenvolvimento típico. Esta sequência é respeitada tanto no planejamento de objetivos e aquisições do paciente em longo prazo quanto durante o próprio atendimento, que evolui a partir de posturas mais simples até posturas que demandam maior controle motor.
O conceito é indicado em quais situações?
Priscila de Souza - O conceito é indicado para os pacientes com déficits motores e funcionais, sendo estes com alteração do padrão motor. A base do conceito é preparar o músculo para execução do movimento dentro de um padrão de normalidade. Consequentemente, há o fortalecimento das musculaturas especificas, promovendo liberdade e qualidade do movimento dentro de uma função, seja ela comer, vestir-se, ficar em pé, andar, entre outras atividades que se fazem necessárias para a independência, qualidade e estilo de vida de cada paciente.
É preciso ser capacitado para aplicar o conceito nos pacientes?
Priscila de Souza - Sim, os profissionais Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais e Fonoaudiólogos, são liberados para a formação e esta é bastante intensa e ampla. A formação inicia-se com o curso básico, após esta formação o profissional poderá ingressar nas variações do método desde cursos intermediário ao avançado.
Comente um pouco sobre sua aplicação e as abordagens fisioterapêuticas dentro deste conceito?
Priscila de Souza - Devemos sempre levar em consideração a capacidade física e motora de cada paciente, pois a sessão precisa estar de acordo com a idade e interesse de cada um. Os manuseios devem ser realizados por meio de pontos-chave de controle e em PIT (Padrões Influenciando o Tônus). Os PIT inibem os padrões anormais e facilitam a ocorrência da movimentação ativa o mais próximo possível da execução do movimento normal de forma simultânea. Associado então às reações de equilíbrio, proteção e retificação postural para a elaboração das atividades funcionais, consequentemente a sessão possibilita intensificar o aprendizado da função motora.
É necessário o uso de equipamentos?
Priscila de Souza - Não necessariamente. Durante os atendimentos, os profissionais podem utilizar objetos facilitadores para realizar o movimento como bolas, rolos, faixas elásticas de borracha ou tecidos, bandagem neuromuscular entre outros equipamentos para promover mais qualidade do movimento, além de aumentar os “inputs” sensoriais do corpo, que são importantes para a motricidade fina e a coordenação motora. O uso desses objetos deve ser criteriosamente avaliado e indicado somente se adequado ao perfil do paciente.
Quais são os possíveis benefícios que o Conceito Neuroevolutivo Bobath pode proporcionar ao paciente?
Priscila de Souza - O conceito ajuda na recuperação de indivíduos de todas as idades e déficits funcionais, podendo ser utilizado em situações em que há alguma interferência no desenvolvimento normal do sistema nervoso que curse com atrasos no desenvolvimento típico, ou também em casos de alterações do movimento, da postura e dos tônus. Os benefícios se destacam na integração da postura e movimento em relação à qualidade do desempenho da tarefa. A facilitação da execução do movimento é um dos aspectos fundamentais da prática clínica do conceito Bobath. Consequentemente, o paciente melhora sua percepção de corpo, espaço, velocidade e qualidade do movimento, o que torna os resultados satisfatórios para todas as pessoas que estão envolvidas no processo de reabilitação, desde pacientes, familiares, cuidadores e também os profissionais de saúde.
Como esse método pode otimizar o trabalho do profissional da saúde?
Priscila de Souza - O atendimento com um profissional amparado no Conceito Neuroevolutivo Bobath é o diferencial na intervenção do paciente com déficit neurológico, pois a cada sessão é feita uma avaliação baseada no método e traçado um objetivo terapêutico diário de acordo com a demanda e queixa principal de cada paciente. Ao final da terapia é observado se o resultado da sessão foi satisfatório. Assim passa a ser um método que o profissional a cada sessão faz uma autoavaliação do seu atendimento versus a avaliação dos resultados obtidos diariamente em cada paciente. E a partir desta dinâmica é possível pontuar e obter grandes e satisfatório resultados. Segundo Bobath, a referência para que se saiba se a intervenção foi eficiente, é a ocorrência de movimentos funcionais, com adequado alinhamento biomecânico, coordenação motora e controle motor.
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