Há pouco mais de um mês o mundo praticamente parou por conta de um vilão invisível e altamente transmissível, o coronavírus. Responsável por causar a doença conhecida por COVID-19, este tem sido o maior desafio da área da saúde desde a pandemia da chamada “gripe espanhola”, que deu início em 1918 e contaminou cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo. Convidamos o Dr. Ricardo Cantarim Inacio, infectologista da Equipe Increasing, para esclarecer dúvidas e explicar aspectos fundamentais do vírus. Confira o bate-papo a seguir:
O que é o coronavírus?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - Coronavírus é o nome de uma família de vírus conhecidos desde os anos 1960 que tem vários integrantes. São muito importantes como vírus causadores de infecção em animais. Há relatos de sete vírus desta grande família que causam infecção em humanos, principalmente nas vias aéreas superiores. Em 2002 foi registrado o primeiro relato de um vírus desta família que causava doença pulmonar grave na China, chamado de SARS-Cov. Em 2012, no Oriente Médio, também surgiu outro vírus, também causador de pneumonia grave, o MERS-COV. Agora, em 2019, foi diagnosticado mais um vírus causador de pneumonia grave e causador desta pandemia atual, o SARS-Cov-2, e que diferente dos outros vírus tem um poder de disseminação muito grande, capaz de causar pneumonia viral moderadamente letal.
Como pode ocorrer a transmissão?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - A transmissão do SARS-Cov-2, causador da COVID-19, se dá principalmente pelo ar e pelo contato com superfícies contaminadas. Pelo ar o vírus se dissemina principalmente quando alguém doente espirra ou tosse e o vírus no ar chega até as narinas ou em alguma mucosa de alguém que está de um a dois metros de distância da pessoa doente. Outra forma de transmissão é por contato, que é quando o vírus liberado pela pessoa doente fica viável em superfícies como mesa, talheres, teclados de computador, canetas e qualquer objeto. Daí o contágio pode ocorrer se uma pessoa não doente entra em contato direto com esses objetos e em seguida, com a mão sem higienizar, toca alguma mucosa, como olhos, nariz e boca.
E quais são os sintomas da doença?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - A pessoa contaminada pode apresentar sintomas leves de um resfriado, como coriza, dor de garganta, dor no corpo, variando de uma tosse mais importante, chegando a falta de ar e pneumonia viral grave, o que pode levar ao óbito destes pacientes.
Como podemos nos prevenir?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - Prevenindo de se contaminar com o vírus pelas formas de disseminação. Pessoas com tosse ou outros sintomas respiratórios devem fazer a higiene da tosse, como cobrir a boca com o braço ou com lenço de papel descartável ao espirrar ou tossir, higienizar as mãos após tossir ou espirrar e fazer isolamento social, ou seja, ficar em casa e não ficar perto de pessoas que não estão doentes. Também é recomendado que esta pessoa, se for ficar perto de outras, utilizar máscara comum para prevenir de disseminar a doença. Todas as pessoas devem ter o hábito de sempre higienizar as mãos e não levá-las aos olhos, bocas e nariz. Também é valioso evitar aglomerações e preferir ficar em locais arejados e com luz solar.
Há um tipo específico de tratamento para coronavírus?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - Atualmente não há nenhum tipo de tratamento medicamentoso específico para o coronavírus. Alguns tratamentos têm sido testados e outras medicações têm sido estudadas, mas não há nada em definitivo. E também ainda não há vacina para a prevenção deste coronavírus. Atualmente o melhor tratamento é a prevenção de se contaminar, mencionada anteriormente.
Se houver alguma suspeita de contágio, como a pessoa deve proceder?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - Observar sinais e sintomas da doença como febre e sintomas respiratórios e evitar aglomerações com outras pessoas. E se houver aparecimentos de sintomas, buscar orientações médicas.
Animais podem transmitir a doença?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - Aparentemente não para este vírus, mas há relatos de alguns animais que adoeceram. Portanto cuidar dos bichinhos também é importante. Como sempre, a recomendação é higienizar as mãos antes de brincar com eles e evitar tossir ou espirrar perto deles.
Qual faixa etária corre mais risco de ser infectada?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - Temos visto nos trabalhos de mortalidade e estudo da doença que pessoas mais velhas, principalmente acima dos 60 anos, são as que correm mais risco de contrair doença grave. Mas há também relatos de várias pessoas mais jovens que também apresentaram doença grave ou que ficaram muito tempo em unidades de terapia intensiva.
E como proceder em casos de gestantes?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - Não há relatos que a doença seja mais grave em gestante e nem que possa passar via placentária para os fetos. Portanto o atendimento para uma gestante doente será praticamente o mesmo de uma pessoa não gestante.
E como se proteger em transportes públicos, como ônibus, trens e metrô?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - Evitar aglomerações, ficar a mais de um metro de distância das pessoas, higienizar as mãos com álcool gel antes de tocar a face ou após sair do ônibus, também é válido ficar em locais mais arejados e claros. Quando possível, abras os vidros das janelas do transporte público.
Como as autoridades brasileiras têm se preparado para enfrentar a doença?
Dr. Ricardo Cantarim Inacio - A quarentena foi uma medida importante que se viu ser eficaz na prevenção de transmissão e disseminação do vírus. Também há um esforço muito grande em se preparar os hospitais para atendimento do publico de pacientes com síndrome respiratória aguda e criação de leitos fora do hospital, como unidades de campanha para atendimento de casos de baixa e médica complexidade. Também tem sido de grande ajuda informações em meios de disseminação de massa como televisão e radio com explicações à população de como se prevenir da doença.