O que é Neuropelveologia? É o estudo dos nervos da pelve. Apesar de encontrarmos registros destes nervos nos estudos de anatomia de Leonardo DaVinci no final do século XV, apenas recentemente o conhecimento desta anatomia tem sido aplicado clinicamente, trazendo possibilidades diagnósticas e terapêuticas inovadoras.
Existem algumas explicações para que esse conhecimento tenha sido negligenciado. Primeiramente, o acesso a estes nervos é muito difícil por técnicas cirúrgicas tradicionais. Somente a laparoscopia permite a abordagem destes nervos de forma sistemática, efetiva e minimamente invasiva. O problema é que, com a subespecialização na medicina, o conhecimento médico ficou muito compartimentalizado, fazendo com que nenhuma das especialidades médicas tradicionais reúna todas as habilidades necessárias para a abordagem laparoscópica destes nervos. Os cirurgiões pélvicos (ginecologistas, proctologistas e urologistas), que têm treinamento avançado em laparoscopia, não têm conhecimentos de neurocirurgia, enquanto os neurocirurgiões não têm treinamento avançado em laparoscopia.
A Neuropelveologia surge da fusão de técnicas avançadas de laparoscopia ginecológica com conceitos de Neurocirurgia.
O pioneiro desta especialidade foi o Prof. Marc Possover, que introduziu este conhecimento na comunidade médica trazendo uma nova visão para o tratamento das dores pélvicas e para a reabilitação de pacientes com problemas envolvendo esses nervos e suas origens na medula espinhal. Esta especialidade foi trazida ao Brasil pelo Prof. Nucelio Lemos que, desde então, se dedica de forma incansável a conscientizar a comunidade médica mundial da importância do conhecimento destes nervos e das afecções a eles relacionadas.
No passado, em cirurgias laparoscópicas avançadas para endometriose ou câncer ginecológico observava-se até 20% de complicações relacionadas a lesões de nervos. Alegava-se que tais nervos não eram visíveis e por isso poderiam ser lesionados, levando a complicações como incontinência ou retenção urinária, além de dores atípicas no pós-operatório e alterações sexuais. Os avanços do conhecimento desta anatomia dos nervos trazidos pela Neuropelveologia e a evolução dos materiais de vídeocirurgia (câmeras HD etc) hoje permitem que estas lesões sejam evitadas. Centros de cirurgias ginecológicas avançadas que aplicam conhecimentos trazidos pela Neuropelveologia observam redução de 90% nas taxas de complicações decorrentes de lesão nos nervos.
Outra possibilidade criada com a Neuropelveologia é a neuromodulação para distúrbios de movimento e melhora da função urinária em pacientes com lesão medular.
Brindley, na década de 70, desenvolveu um procedimento para estimulação de nervos sacrais que permitia que pacientes com lesão medular pudessem, através de um estímulo elétrico, esvaziar a bexiga e melhorarem a ereção peniana. Um dos principais problemas deste procedimento era a substituição de eletrodos em caso de quebra ou infecção, devido à densa fibrose causada pela primeira cirurgia.
Há cerca de 20 anos, o Prof. Marc Possover propôs o uso de técnicas da Neuropelveologia para o resgate destas cirurgias com o implante dos eletrodos por via laparoscópica. Surge, assim, o procedimento LION, sigla derivada do termo em inglês Laparoscopic Implantation of Neuroprosthesis (implante laparoscópico de neuropróteses).
Hoje, o procedimento LION foi aprimorado e mais de 100 cirurgias LION foram realizadas no mundo. Nossa equipe no Brasil já realizou mais de 40 cirurgias, trazendo muitos benefícios na reabilitação de pacientes com lesão medular.
Assim, a Neuropelveologia possibilitou um “novo ponto de vista” sobre os nervos da pelve, trazendo uma nova esperança para pacientes paraplégicos, amputados com dor em membro fantasma nas pernas, pacientes com dores pélvicas e ciatalgias intratáveis, pacientes com doenças neurológicas que causem alterações urinárias e/ou perda de força muscular nos membros inferiores e dor neuropática pós-operatória. Representa, também, uma alternativa cirúrgica segura para cirurgias radicais pélvicas, por meio de procedimentos neuropreservadores.
Por:
Dr. Nucelio Luiz de Barros Moreira Lemos - CRM-SP: 113.015
Dr. Gustavo Leme Fernandes - CRM-SP: 112.928
Dra. Augusta Morgado Ribeiro - CRM-SP: 144475
Dr. Nucelio Luiz de Barros Moreira Lemos - CRM-SP: 113.015
Dr. Gustavo Leme Fernandes - CRM-SP: 112.928
Dra. Augusta Morgado Ribeiro - CRM-SP: 144475