Neuroplasticidade é a capacidade do sistema nervoso de criar novas conexões e adaptar-se ao longo do tempo, em resposta aos estímulos do meio ambiente e do próprio corpo. Isso é de extrema relevância, sobretudo no caso de doenças neurológicas.
Em muitas situações, essas mudanças podem estimular o desenvolvimento de novas habilidades e o aprimoramento da sensibilidade. No entanto, a neuroplasticidade também carrega um aspecto preocupante, pois as novas vias sensitivas e motoras podem produzir, além de benefícios, alguns problemas.
Quando falamos sobre pacientes com lesão medular, a neuroplasticidade é fundamental para a recuperação das funções perdidas. Por outro lado, grande parte dessas pessoas acabam desenvolvendo dor neuropática (entre 50% e 60%) e espasticidade (70%).
O que é a dor neuropática?
A dor neuropática é a dor causada por uma lesão ou doença que afeta o sistema nervoso. Nos pacientes com lesão medular, ela pode ocorrer no nível da lesão ou abaixo dele.
A dor neuropática pode se manifestar de forma espontânea ou provocada. Como o nome diz, dor espontânea é a dor que aparece espontaneamente, ou seja, sem nenhuma causa óbvia. Já a dor provocada surge de um estímulo que normalmente não seria doloroso, como o toque ou a mudança de temperatura – este fenômeno é chamado de alodinia. Os pacientes relatam dores similares a queimação, aperto, pontadas ou picadas.
A dor neuropática pode ser intensa, prejudicando muito a qualidade de vida. Em geral, a dor neuropática é de difícil tratamento, e requer uma complexa combinação de fisioterapia, acupuntura, meditação/mindfulness, medicamentos, infiltrações e, em casos mais graves, cirurgias e implantes de dispositivos para bloquear/regular as vias dolorosas.
Para que o tratamento seja bem sucedido, é essencial diferenciar a dor neuropática da dor musculoesquelética, que também é muito prevalente nos pacientes com lesão medular, devido aos espasmos, às contraturas e sobrecarga musculares. Assim, os profissionais que lidam com estes pacientes devem ser capacitados no tratamento destes dois tipos de dor.
O que é espasticidade?
Espasticidade é uma ativação muscular involuntária, presente na maioria das pessoas com lesão medular. Ela também é consequência da neuroplasticidade, pois resulta da criação ou ativação de novas conexões dos neurônios da medula, na tentativa de compensar suas conexões com o cérebro, que foram interrompidas pela lesão.
A Espasticidade pode ser contínua ou intermitente. A espasticidade contínua se caracteriza pelo aumento do tônus muscular e pode resultar em encurtamento e o enrijecimento das fibras. A espasticidade intermitente se caracteriza por contrações exageradas ou clônus (tremores intensos), em geral em resposta a movimentos que alongam as fibras musculares.
As contrações musculares geradas pela espasticidade podem ter efeitos positivos e negativos. Pelo lado positivo, as contrações musculares ajudam a manter a massa muscular e óssea, auxiliam nas transferências e, em alguns casos, até permitem que os pacientes fiquem de pé.
Por outro lado, mais de 90% dos pacientes afirma que a espasticidade interfere negativamente em algum aspecto da vida, podendo, por exemplo, acordar a pessoa durante a noite e prejudicando o sono, ou provocando desequilíbrios, resultando em quedas e interferindo em outras atividades do cotidiano.
Muitos estudos mostram uma associação entre dor e espasticidade após a lesão medular.
Similaridades
A dor neuropática e a espasticidade são causadas por complexas cadeias de alterações do sistema nervoso. A perda da regulação pelo cérebro faz com que os neurônios da medula fiquem exageradamente ativos, respondendo excessivamente a estímulos e disparando quando não deveriam.
O paciente com lesão medular deve ser avaliado por uma equipe médica e multiprofissional especializada, capaz de realizar uma avaliação clínica completa e identificar os tipos de dor espasticidade presentes na pessoa e oferecer um tratamento multimodal.
A equipe do Increasing oferece as mais variadas modalidades de tratamento da dor neuropática e espasticidade. A equipe multiprofissional intervém de várias maneiras com fisioterapia, acupuntura, ajuste comportamental e da dieta, hidroterapia, entre outros, oferecendo excelentes resultados sem os indesejados efeitos colaterais do tratamento medicamentoso.
A equipe médica atua prescrevendo e integrando tratamentos multiprofissionais e associando medicações orais, intramusculares e tópicas, infiltrações, bloqueios musculares e nervosos e, quando necessário, muitas outras intervenções.
Por Juliana Nucci e Nucelio Lemos
Referências Bibliográficas
Tibbett JA, Field-Fote EC, Thomas CK, Widerström-Noga EG. Spasticity and Pain after Spinal Cord Injury: Impact on Daily Life and the Influence of Psychological Factors. PM R. 2020 Feb;12(2):119-129.
Finnerup NB. Neuropathic pain and spasticity: intricate consequences of spinal cord injury. Spinal Cord. 2017 Dec;55(12):1046-1050.