O que é o LION? (parte 1)


Para falarmos sobre LION, primeiramente é necessário entender o que é a Neuropelveologia

De maneira simplificada, Neuropelveologia é o estudo dos nervos da pelve. Por muitos anos o conhecimento da anatomia destes nervos e seu percurso através da pelve foram negligenciados devido à dificuldade de acesso cirúrgico. 

Com o desenvolvimento da laparoscopia, o acesso a estas partes da pelve evoluiu significativamente, permitindo a abordagem destes nervos de forma sistemática, com aplicações clínicas inovadoras. Surge então a Neuropelveologia, por meio da fusão de técnicas avançadas de laparoscopia ginecológica com conceitos de Neurocirurgia. 

O pioneiro desta especialidade foi o Prof. Marc Possover, que introduziu este conhecimento na comunidade médica trazendo uma nova visão para o tratamento das dores pélvicas e para a reabilitação de pacientes com lesão destes nervos. 

Esta especialidade foi trazida ao Brasil pelo Prof. Nucelio Lemos que, desde então, se dedica de forma incansável a conscientizar a comunidade médica mundial da importância do conhecimento destes nervos e das afecções a eles relacionadas.

As principais áreas de atuação da Neuropelveologia são o tratamento da dor neuropática causada por encarceramentos nervosos intrapélvicos — quando o nervo de dentro da pelve é comprimido por alguma estrutura causando dor e perda de função na região inervada — bem como o uso da neuromodulação para controle de dor, melhora da função urinária, fecal e sexual e também para distúrbios de movimento. É neste último campo de atuação que surge o implante laparoscópico de neuromoduladores, do qual falaremos a seguir.

Para entender o LION

O conceito de se implantar eletrodos em nervos para restaurar sua função é antigo. Iniciou-se na década de 1970, quando Brindley desenvolveu um implante capaz de melhorar a função urinária em pacientes com lesão medular. Este procedimento era realizado de forma a céu aberto, com invasão na coluna vertebral.

O implante laparoscópico de neuromodulador — ou LION (Laparoscopic Implantation Of Neuroprothesis) — surgiu da possibilidade de acesso aos nervos lombossacrais por laparoscopia pela pelve, trazendo novas possibilidades para a neuromodulação. 

O LION consiste no implante de quatro eletrodos nos nervos ciáticos, pudendos e femorais — esquerdos e direitos — e de um gerador de impulsos elétricos que conduzirá impulsos pelos eletrodos.

Com o estímulo dos nervos pudendos é possível melhorar a continência urinária e diminuir a necessidade de uso de medicações para controle da bexiga, como a oxibutinina, e reduzir o número de sondagens ao longo do dia. A estimulação do nervo pudendo também melhora o controle do esfíncter anal, atenuando o risco de perdas de fezes. Além disso, em pessoas do sexo masculino, observa-se melhora da qualidade da ereção e da função sexual.

A estimulação dos nervos femorais promove a contração dos músculos da coxa (quadríceps femoral) e, assim, a extensão dos joelhos. Já a estimulação dos nervos ciáticos possibilita contração dos glúteos e de toda a musculatura posterior das pernas. Isso permite que os pés se firmem contra o solo, dando maior estabilidade ao tronco e ao quadril. 

Por meio do estímulo combinado dos nervos ciáticos e femorais é possível efetuar o treinamento de ortostatismo (ficar em pé) e de marcha (caminhar), com o uso de aditamentos como barras paralelas e/ou andadores. 

Nosso maior objetivo com o LION é aumentar as possibilidades de reabilitação para os pacientes com lesão medular, ampliando desta forma a independência, a mobilidade e atingindo resultados que antes não seriam possíveis.

Na segunda parte desta série explicaremos a importância da equipe médica e multiprofissional no tratamento com LION. Não deixe de acompanhar o nosso conteúdo!