Avanços significativos foram conquistados a respeito de como o cérebro e a medula espinhal estão interligados.
Há não muito tempo atrás, a Fisioterapia era considerada compensatória, e tinha a função de ensinar o corpo a contornar as funções perdidas. No entanto, hoje compreende-se que a Fisioterapia é uma parte fundamental da recuperação. Existem mudanças bem documentadas na literatura médica, e que vão desde a postura em pé e a melhoria da saúde e qualidade de vida.
Com isso, surgiram então novas estratégias de Fisioterapia, entre elas o treinamento locomotor, que é usado para pessoas com lesão cerebral ou na medula espinhal, acidente vascular encefálico (AVC) e outros distúrbios neurológicos.
Programas de pesquisa e clínicas de países da Europa e da América do Norte apontam que muitas pessoas que vivem com lesões neurológicas, independentemente do tempo decorrido desde sua lesão, experimentam melhorias na deambulação após receber o treinamento locomotor.
Embora não seja amplamente disponível em clínicas no Brasil, é uma terapia padrão para pessoas com lesões neurológicas na Alemanha, Noruega, Suíça, Estados Unidos, Canadá e Coréia do Sul.
Como funciona o treinamento locomotor?
O treinamento locomotor é baseado em novos conhecimentos de como o cérebro e a medula espinhal controlam a marcha humana, e como o sistema nervoso aprende uma habilidade motora.
O objetivo final do procedimento é treinar os participantes a se levantarem e caminharem novamente, da forma mais independente possível.
O treinamento é ministrado de maneira sistemática e padronizada usando três componentes de treinamento:
- Treinamento passo na esteira;
- Treinamento de caminhada em ambientes controlados;
- Treinamento de deambulação comunitária.
O treinamento locomotor utiliza o suporte de peso corporal em esteira ergométrica. O participante é suspenso por um aparelho sobre uma esteira, enquanto fisioterapeutas treinados movem as pernas para simular uma caminhada em ritmo normal.
A ideia por trás do treinamento locomotor é ajudar o sistema nervoso a reaprender os padrões motores associados à caminhada.
Durante o treinamento locomotor, a informação sensorial das pernas e do tronco é enviada repetidamente para a medula espinhal. O estímulo sensorial vem dos movimentos realizados, do contato manual do fisioterapeuta nos participantes e do contato da sola do pé no chão. À medida em que o participante melhora, a assistência do fisioterapeuta é reduzida.
Os mesmos princípios e habilidades de treinamento adquiridos no treinamento na esteira são então transferidos para as fases de treinamento de locomoção em solo e deambulação comunitária.
O treinamento de caminhada em ambientes controlados leva a uma nova capacidade do sistema nervoso em relação ao meio ambiente. Nesse cenário, limitações específicas à marcha independente, incluindo desvios de marcha, são abordadas.
O treinamento de deambulação comunitária implementa princípios que ajudarão os participantes a atingir o objetivo geral do programa: mobilidade segura, eficaz e independente no lar e na comunidade.
Melhorias após treinamento locomotor
Embora não haja duas pessoas que respondam à terapia exatamente da mesma maneira, a maioria esmagadora apresenta melhorias como resultado do treinamento locomotor.
Para alguns, as melhorias na saúde incluem o aumento da função cardiovascular e pulmonar, aumento da densidade óssea, diminuição da espasticidade, diminuição da probabilidade de lesões na pele e melhoria da intolerância à glicose.
Indicações
Pessoas com qualquer tipo de dificuldade em se manter de pé e caminhar de forma independente (adultos e crianças). Doenças como Idosos com déficit de equilíbrio, AVE, Parkinson, Lesão Medular, pós-operatório de cirurgias neurológicas e ortopédicas, Traumatismo Craniano, Paralisia Cerebral, Mielomeningocele, Síndrome de Down, Esclerose Múltipla, Esclerose Lateral Amiotrófica, etc.
Como fazer?
Inicialmente é feita uma avaliação do caso. Nessa primeira consulta será determinado o tempo, a frequência e o tipo de tratamento pertinente para cada caso.
O procedimento pode ser feito uma, duas ou até três vezes por semana. Em alguns casos, é possível realizar o tratamento diariamente.
Prof. Dr. Felipe F. Lemos, fisioterapeuta neurofuncional – CREFITO-3/69760-F