A incontinência urinária é conhecida pelo impacto negativo que causa em diferentes aspectos da vida da mulher ou do homem, podendo afetar pessoas de todas as idades.
Vale lembrar que essa condição impacta não só a nível físico, mas também a nível psíquico, emocional, social e até econômico.
Este artigo é para que você possa compreender que perder urina não é normal, mesmo que seja em pequena quantidade, e que há tratamento para os diferentes tipos dessa condição.
O que é Incontinência urinária?
A Sociedade Internacional de Continência (ICS) define a incontinência urinária como a queixa de qualquer perda involuntária de urina. Vale lembrar que nenhum escape de urina é normal, seja por tossir, seja por espirrar ou por qualquer outro motivo.
Não faz parte do processo de envelhecimento ou do período pós-parto. Molhar a calcinha ou o protetor com qualquer quantidade de urina é incontinência urinária.
Os tipos mais comuns são:
Incontinência urinária de esforço (IUE) – é quando a pessoa perde urina ao tossir, espirrar, levantar peso etc. Isso ocorre porque esses movimentos aumentam a pressão no abdômen, exigindo ainda mais dos músculos do assoalho pélvico.
Em casos mais graves, a pessoa pode perder urina ao realizar mínimos esforços, como levantar-se de uma cadeira. A IUE é resultante de assoalho pélvico fraco, lento ou tenso, e é mais comum acometer mulheres.
Em homens sem doença neurológica, a IU está, na maioria das vezes, associada a um histórico de cirurgia prostática. Esta intercorrência pode ser causada por incompetência esfincteriana, disfunção vesical ou transbordamento urinário devido à retenção.
Incontinência urinária de urgência (IUU) – é a perda de urina que acontece logo depois de uma vontade forte e repentina de urinar. Normalmente ocorre antes que a pessoa consiga chegar ao banheiro.
Uma pessoa com IUU tende a ir ao banheiro várias vezes ao dia e acordar durante a noite para urinar. A IUU tem relação maior com a bexiga urinária, esta que pode estar muito sensível ou muito ativa.
- Alguns fatores de risco para IUU:
- Baixa ingestão de água;
- Estresse;
- Infecção do trato urinário;
- Alimentos e bebidas potenciais irritantes vesicais (pimenta, refrigerantes e bebidas gaseificadas, cafeína, condimentos, etc.);
- Bebidas alcoólica;
- Constipação.
Incontinência urinária mista (IUM) – nesta modalidade a perda de urina acontece tanto em momentos de esforço quanto em momentos do desejo súbito de urinar.
Fatores de risco para incontinência urinária
Diversos fatores sobrecarregam o assoalho pélvico ao longo da vida, especialmente nas mulheres. O fato de não termos a cultura de reconhecer e trabalhar essa musculatura piora ainda mais essa condição. Vejamos alguns fatores:
- Genética, etnia e histórico familiar;
- Histórico gestacional;
- Envelhecimento;
- Exercícios de alto impacto;
- Constipação intestinal;
- Tosse crônica.
Um estudo brasileiro conduzido em população idosa relatou a prevalência de IU de 11,8% entre os homens e de 26,2% entre as mulheres (6).
As mulheres têm maior predisposição de apresentar essa condição. Elas apresentam uma menor capacidade de oclusão uretral.
Isso se deve ao fato de a uretra funcional feminina ser mais curta e a continência depender não somente do funcionamento esfincteriano adequado, mas também de elementos de sustentação uretral (músculos e ligamentos) e transmissão da pressão abdominal para o colo vesical.
Em uma revisão sistemática com metanálise da Neurourology and Urodynamic de 2020, foram analisados 54 artigos que incluíram ao todo amostra de 138.722 mulheres com idade entre 10 e 90 anos.
A prevalência total foi de 25,7%. Quando excluída a população idosa, a prevalência ainda assim se manteve alta, com cerca de 26%, sendo a incontinência urinária de esforço a mais comum.
Exames e tratamento de incontinência urinária
A incontinência urinária tem tratamento e cada vez mais vem se tornando mais claro e multidisciplinar. Para isso é essencial a informação, a conscientização que existe um problema, mudança no estilo de vida, uma boa avaliação profissional no momento do diagnóstico, através de exames rotina e específicos. Outro exame importante para o diagnóstico da IU é a Urodinâmica.
A avaliação urodinâmica completa ou estudo urodinâmico (EUD) é um exame realizado para avaliar o funcionamento do trato urinário inferior. Em geral, o EUD é realizado quando há falha no tratamento clínico ou quando se planeja alguma forma de tratamento cirúrgico.
Esse exame é essencial para definir e predizer a resposta ao tratamento, podendo ser decisivo quanto à indicação ou não de um tratamento cirúrgico. O exame geralmente não gera dor, apenas um pequeno desconforto pela passagem do cateter uretral.
Vejamos os tratamentos disponíveis no Increasing:
Biofeedback eletromiográfico – O biofeedback eletromiográfico-BFB-EMG é uma técnica de aprendizado definida como um processo de monitoração de eventos fisiológicos. Eles captam o sinal elétrico dos músculos em atividade;
Eletroestimulação – A estimulação percutânea do nervo tibial é uma forma de neuromodulação que proporciona a estimulação retrógrada ao plexo do nervo sacral por meio de um eletrodo inserido no tornozelo, cefálico ao maléolo medial, uma área anatômica reconhecida como o centro da bexiga;
Cones vaginais – São pequenas cápsulas de formato anatômico, constituídas de materiais resistentes e pesados que, ao serem inseridos no canal vaginal, proporcionam o estímulo necessário para que a mulher contraia corretamente a musculatura do assoalho pélvico;
Programa de treinamento para os músculos do assoalho pélvico – O chamado TMAP pode ser usado para o controle da IUU, uma vez que a contração do detrusor pode ser inibida por uma contração voluntária dos músculos do assoalho pélvico (MAP);
Games com realidade virtual – permite ao paciente interagir ainda mais com a terapia.
Com esses dados podemos perceber que incontinência é mais comum do que se pensa e não é “coisa da velhice”. Ou seja, pode acontecer em qualquer idade, e o melhor de tudo, existe tratamento. Por isso é preciso procurar o quanto antes um profissional da área para uma avaliação e condução da terapia mais adequada.
Obter aconselhamento profissional específico para a sua incontinência é a melhor forma de reduzir ou até mesmo eliminar as perdas urinárias.
Mantenha o controle!
Por Marta Lira Goulart – enfermeira estomaterapeuta
Referências bibliográficas:
1. Fernandes, S., et al. Qualidade de vida em mulheres com Incontinência Urinária. Rev. Enf. Ref. vol.IV no.5 Coimbra jun. 2015
2. ASSIS, G M; GOULART, ML; NUNES, ACS; OLIVEIRA, FF. Prevenindo e tratando a incontinência urinária feminina 1.ed. - Taubaté: Casa Cultura, 2020.
3. Mostafaei, H., et al. Prevalence of female urinary incontinence in the developing world: A systematic review and meta‐analysis— A Report from the Developing World Committee of the International Continence Society and Iranian Research Center for Evidence Based Medicine. Neurourology and Urodynamics. 2020;1–24.
4. Tamanini JT, Lebrao ML, Duarte YA, Santos JL, Laurenti R. Analysis of the prevalence of and factors associated with urinary incontinence among elderly people in the Municipality of Sao Paulo, Brazil: SABE Study (Health, Wellbeing and Aging). Cadernos de saude publica. 2009;25(8):1756-62.
5. Hunskaar S BK, Clark A, Lapitan MC, Nelson R, Sillen U, Thom D. Epidemiology of urinary (UI) and faecal (FI) incontinence and pelvic organ prolapse (POP). Incontinence. 2005;1:255-312.
6. Fleischmann N FA, Blaivas JG, Panagopoulos G. Sphincteric urinary incontinence: relationship of vesical leak point pressure, urethral mobility and severity of incontinence. The Journal of urology. 2003;169(3):999-1002.
7. Nambiar AK, Lemack GE, Chapple CR, Burkhard FC, European Association of U. The Role of Urodynamics in the Evaluation of Urinary Incontinence: The European Association of Urology Recommendations in 2016. Eur Urol. 2017;71(4):501-3.