A COVID-19 promove lesões importantes nos tecidos pulmonares que impedem em grande parte que o oxigênio entre no organismo de forma correta para a produção de energia.
A falta de energia interfere diretamente nos músculos e nos órgãos do nosso corpo. Logo, temos uma perda funcional importante no organismo promovida pela doença.
Dentre essas perdas, temos no sistema pulmonar a redução de força muscular respiratória, tanto dos volumes quanto da capacidade do órgão.
No sistema cardiovascular, o paciente relata dificuldade em realizar atividades mais simples, como escovar os dentes ou tomar banho. Em casos como esses tais atos simples promovem a fadiga.
Já no sistema musculoesquelético são observados diminuição da força, equilíbrio e limitação dos movimentos.
O papel da Fisioterapia Cardiorrespiratória
Em cenários semelhantes ao relatado anteriormente, a Fisioterapia Cardiorrespiratória apresenta um papel fundamental para a reabilitação e sucesso de tratamento deste individuo.
Para tanto, sua intervenção inicia-se ainda durante a fase de internação, com exercícios respiratórios, administração e controle de oxigenoterapia e, quando necessário, o uso e controle de ventilação mecânica, sempre com o objetivo de atenuar os sinais, sintomas e sequelas funcionais decorrentes da doença na fase inicial.
Com a melhora do individuo, havendo redução ou ausência dos sintomas iniciais – além da retirada das próteses ventilatórias, quando necessárias –, é iniciado um programa de reabilitação de forma intensiva.
Este processo é conhecido como Reabilitação pós COVID, e inicia-se na alta da unidade de terapia intensiva (no caso dos indivíduos que necessitam) ou das enfermarias. O procedimento perdura até que o individuo atinja os objetivos propostos na construção do plano de tratamento.
O plano é composto de exames específicos e de uma avaliação criteriosa realizada pelo fisioterapeuta cardiorrespiratório.
Com o resultado em mãos, o profissional traça em conjunto com o indivíduo os objetivos e metas iniciais, a médio e longo prazo, e os meios que serão utilizados para alcançar os efeitos propostos pelo tratamento.
Este tratamento pode durar de seis semanas a aproximadamente um ano nos casos mais graves da doença. Ele é composto inicialmente por exercícios respiratórios que aumentem a força muscular, o volume e a capacidade pulmonar. Para tanto, podem ser utilizados os incentivadores respiratórios como, por exemplo, o Power Breathe®, durante os exercícios com os membros superiores e inferiores.
Havendo progresso, são incluídos exercícios mais intensos, específicos para membros inferiores e superiores, sempre associando aos exercícios respiratórios e ao uso dos incentivadores respiratórios.
Nesta fase é inserido também, como parte da sessão de terapia, a inclusão de cicloergômetros (bicicletas) e/ou caminhadas em ambiente fechado (esteira) ou em ambiente aberto, por exemplo, em parques.
Acompanhamento do fisioterapeuta cardiorrespiratório
Para controlar as atividades e verificar se estão promovendo o efeito terapêutico esperado, o fisioterapeuta cardiorrespiratório acompanha o indivíduo com monitoramento ostensivo da frequência cardíaca e respiratória, da pressão arterial, da saturação de oxigênio e também da fadiga – este último item pode ser medido por escalas especificas como a de Esforço Percebido de BORG, durante toda a atividade para a segurança e eficácia do tratamento.
Estes parâmetros são calculados pelo profissional visando ao ganho de capacidade e de condicionamento cardiorrespiratório de forma individualizada.
Com o tempo e progressão das fases estipuladas na construção do tratamento, o indivíduo é ensinado a realizar esse acompanhamento de forma remota e enviar os dados ao profissional por meio de relatórios diários, semanais ou quinzenais. Este processo é conhecido como desmame do terapeuta.
Cabe ressaltar que este desmame é realizado na fase final do tratamento e que, além deste modelo, temos o acompanhamento remoto realizado por videoconferência (autorizada pela Resolução nº 520 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, de 20 de março 2020).
Na fase inicial do tratamento pode haver algumas sessões por videoconferência, mas o indivíduo precisa comparecer a sessão para monitorização, aprendizado e correção dos exercícios promovidos pelo profissional.
Portanto, a reabilitação pós COVID-19 é fundamental para reorganização e melhora das funções perdidas pela doença. O fisioterapeuta cardiorrespiratório tem os meios para reestabelecer o quanto antes tais funções.
O Increasing oferece este tratamento todo pautado nas diretrizes e guidelines mais atuais presente na literatura mundial sobre o assunto.
Por Dr. Wellington Contiero – Fisioterapeuta Cardiorrespiratório – CREFITO3 – 129804-F
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