Os Dispositivos Intrauterinos (DIUs) são, há algumas décadas, grandes aliados das mulheres, seja como método contraceptivo ou como forma de controlar, na medida do possível, a liberdade de viver as escolhas, variações e sintomas de seus ciclos menstruais.
O DIU é um pequeno aparelho colocado dentro do útero e que funciona como um método anticoncepcional eficiente. O dispositivo está disponível nas versões sem hormônio, como as de cobre e cobre com prata, e nas versões com hormônio (o levonorgestrel, que é similar a progesterona produzida no organismo) com variações de dose – os conhecidos Mirena e Kyleena, da Bayer.
Como e quando surgiu o DIU?
O primeiro DIU foi criado em 1909, feito de substância proveniente do bicho da seda. A partir daí o dispositivo foi passando por outros materiais como a prata, o aço inoxidável e o ouro, além de formatos variados, como anéis de pressão.
Foi só em 1950 que o uso de termoplásticos deixou os DIUs mais flexíveis, facilitando a sua inserção e tornando seu uso mais popular. Em 1960 ele assumiu o formato em "T", como conhecemos hoje, e ganhou apresentações em cobre, TCu 200 e TCu380A, sendo este último o DIU de cobre preferido até hoje.
Entre 1960 e 1970 o primeiro DIU hormonal foi lançado, criado com o objetivo de resolver a queixa do aumento do sangramento causado pelos dispositivos de cobre e outros materiais.
Finalmente, em 1976 foi desenvolvido o Mirena – Bayer, amplamente usado nos dias de hoje.
O DIU é uma escolha segura e reversível, que permite um retorno rápido à fertilidade, sendo o método contraceptivo que conta com a maior satisfação entre suas usuárias.
Dados do CDC de 2015 mostram que o uso deste método aumentou de 0,8%, em 1995, para 5,6%, entre 2006 e 2010.
DIU de cobre
O DIU de cobre é uma estrutura plástica revestida por este metal (com ou sem associação com prata) que pode ter validade de até 10 anos, dependendo do modelo escolhido.
O mecanismo de contracepção se dá pelo efeito espermicida do cobre, que altera a motilidade dos espermatozoides e impede seu encontro com o óvulo. A taxa de falha é de 0,8%, ou seja, 8 em cada 1000 mulheres que usam o método de forma habitual por 1 ano têm chance de engravidar.
Este é um método barato e de longa duração, muito bem indicado para mulheres que tenham alguma contraindicação ao uso de hormônios ou que de fato não queiram usá-los.
O dispositivo de cobre ainda pode ser útil como recurso à contracepção de emergência, visto que, quando colocado em até 120 horas (5 dias) após uma relação sexual desprotegida ou indesejada, é a estratégia mais eficaz para prevenir gestação em até 99,9% dos casos.
Já dentre as desvantagens do seu uso estão os possíveis aumentos de cólicas e sangramento no período menstrual, que normalmente são mais importantes nos primeiros seis meses, após os quais geralmente se atenuam.
DIU hormonal
O DIU hormonal, por sua vez, atua liberando uma pequena dose de progesterona diária e lentamente, impedindo a gestação, além de auxiliar no controle das cólicas e intensidade de sangramento do período menstrual.
Seus efeitos ainda auxiliam no controle dos sintomas da endometriose, fazendo com que algumas mulheres deixem de menstruar completamente.
O mecanismo de ação contraceptivo se deve ao espessamento do muco produzido pelo colo do útero, o qual impede a passagem dos espermatozoides e seu posterior contato com o óvulo.
Em alguns casos pode até ocorrer a inibição da liberação do próprio óvulo. E a taxa de falha deste método é de 0,2%, ou seja, 2 em cada 1000 mulheres que usam o método de forma habitual por 1 ano têm chance de engravidar (enquanto a taxa de falha da vasectomia é de 0,15% e do preservativo é de 15%).
Prós e contras do DIU
Os principais efeitos colaterais do DIU hormonal são as irregularidades menstruais e pequenos sangramentos que podem ocorrer em qualquer momento, bem como cólicas. Estes sintomas ocorrem principalmente nos primeiros 6 meses e tendem a melhorar ao longo do uso, quando desaparecem ou se tornam bastante toleráveis.
Apesar de serem muito eficientes, os DIUs hormonais ou não hormonais não são capazes de oferecer nenhuma proteção para infecções sexualmente transmissíveis e para funcionarem adequadamente devem estar bem posicionados dentro da cavidade uterina.
Eventualmente, se mal posicionados, ou em vigência de alterações da conformação da cavidade uterina ou até mesmo na ausência de motivos aparentes, os DIUs podem ser expulsos do útero, com uma de incidência de 2-5%, situação que pode vir acompanhada de cólicas intensas.
Embora as vantagens dos dispositivos intrauterinos sejam inúmeras e sua popularidade seja crescente, o principal fator de indicação para o seu uso ainda é o desejo individual de cada mulher.
Há quem deseje apenas os benefícios da contracepção, com a opção de não se submeter ao uso de hormônios, podendo perceber as variações cíclicas de sua natureza e o potencial de seus corpos ao natural; há quem queira a tranquilidade da segurança contraceptiva sem possíveis incômodos por cólicas e sangramentos.
E, diante das nuances de cada indivíduo, o DIU é capaz de se adequar a necessidade de muitas mulheres, sendo seu método de escolha pelos mais variados motivos.
É direito de cada mulher conhecer bem seu método de escolha e estar consentida de seus riscos e benefícios, para que assim celebre a autonomia de seu direito de reprodução e contracepção.
Por Dra. Augusta Morgado Ribeiro - CRM: 144475 - SP